HERMANTINA DRUMMOND

Hermantina foi um exemplo de mulher! De trato ameno e extremamente querida, foi mãe dedicada, esposa companheira, profissional talentosa, amiga prestativa. Encontrou várias maneiras de trabalhar e ganhar o seu próprio dinheiro. Conseguiu ajudar o marido, o Tabelião Salomão Drummond, nas despesas domésticas e na educação dos filhos.

Hermantina Drummond nasceu em Araxá em 1894, era filha de Azarias Alves Ferreira e Luiza Castro Alves. Aos 21 anos de idade, em 1915, casou-se com Salomão e juntos conquistaram posições privilegiadas na sociedade e formaram numerosa família.

O casal teve seis filhos: Maria Rita, Maria Dora, José Alberto, Olavo (ex-Ministro do Tribunal de Contas e ex-Prefeito de Araxá), Azarias e Antônio Carlos (jornalista e ex-diretor da Rede Globo em Brasília) e ainda uma filha adotiva. Aos filhos somaram-se grande número de netos, bisnetos e trinetos. Dizia não ter sido difícil criar os filhos porque “eles não deram trabalho, são muito unidos e meu marido também foi um pai exemplar, isso ajudou muito.”

A casa de Hermantina era um acervo de cultura: louças, cristais, móveis e outros objetos antigos, que para ela tudo tinha uma riqueza de valor sentimental. O hábito de colecionar antiguidades e o empreendedorismo nato a fizeram inaugurar, aos 75 anos, o “Baú 75”. Este antiquário foi atração para araxaenses e turistas.

Trabalhou por 45 anos como modista. Possuía uma confecção caseira de roupas – com mais 4 ajudantes – e, além disso, comprava roupas de vários lugares, até do exterior, como de Paris, para serem vendidas em Araxá. Versátil e habilidosa, abraçou a profissão, e por muito tempo, ditou a moda feminina, fornecendo roupas para Araxá e região.

Escolheu caminhos profissionais como o comércio de jóias e colchas “tipo caipira”, tecidas artesanalmente, e com desenhos criados por ela mesma. Muitas donas-de-casa aliavam o trabalho doméstico com a confecção de colchas. E forneciam para ela, para que fossem revendidas.

Mesmo com bastante idade, mantinha o espírito jovem e além de comercializar as colchas, ainda fazia queijo e requeijões em casa, para vender.

Apesar de estar sempre bem informada, pois gostava de ler jornais, revistas, livros etc, Hermantina estudou pouco. Costumava dizer que não continuou os estudos porque mulher só precisava saber lavar, passar, cozinhar e cuidar de crianças. Também não lhe sobrava muito tempo para estudar. Sua mãe teve vinte filhos, e ela se via obrigada a ajudar a tomar conta dos irmãos menores. Certa vez, Hermantina, deu à luz uma filha, na mesma ocasião em que a sua mãe teve um filho. Devido, na ocasião, ficar impossibilitada de amamentar, a mãe procurou Hermantina, que se predispôs a amamentar alternadamente a filha e o irmãozinho. E assim foi, por três meses seguidos.

Durante as comemorações do 27º aniversário de Brasília ocorrido em 21 de abril de 1987, a artesã foi agraciada com a medalha Comendador, conferida pelo governador da capital federal, José Aparecido de Oliveira. Ela recebeu a medalha “em reconhecimento aos serviços prestados ao Governo do Distrito Federal”, juntamente com um diploma de mérito. Mas para ela, a condecoração foi devido ao tratamento cordial e atencioso que sempre dispensava aos muitos políticos que se hospedavam em sua casa, dentre eles, o ex-Presidente da República, Juscelino Kubitschek. Prova disso é que, quem entrasse em sua residência, podia imediatamente observar um painel de fotos de Juscelino, nos meios políticos e familiares. Segundo ela, “Eu não fui somente sua amiga, ele me considerava como uma segunda mãe, conforme repetidas vezes me afirmou isto”. “Também explicou que o ex-Presidente foi muito amigo de seu filho Olavo e o estimava como a um irmão.

Ainda em 1987, no dia 11 de julho, foi homenageada pela Fundação Cultural Calmon Barreto. Como grande divulgadora do artesanato de Araxá, seu nome foi escolhido para denominar a Sala dos Teares da instituição. No mesmo mês em que comemorou os 93 anos de idade, ela assistiu, muito feliz, à homenagem recebida na presença de membros da família Drummond e convidados.

Dentre as lembranças deixadas à família restam algumas especiais, que as identificam: “gestos ligeiros para cortar, costurar, manipular plantas e cremes curativos, inventar, inovar”. Essa criatividade que sempre caracterizou está representada pela tesoura com a qual lidou por quase meio século e que, hoje, integra o acervo do Memorial de Araxá. Múltiplas histórias envolvem este instrumento de trabalho e todas simbolizam força e determinação. Com ele, Hermantina garantiu a formação educacional oferecida aos filhos.

Numa entrevista concedida certa vez, assim desabafou: “tenho muitos netos e bisnetos. O único sentimento que me entristece é viver longe dos meus filhos homens. A presença das pessoas é o principal alimento para a alma”. Declarou ainda: “A solidão da velhice, dos inválidos, é mais triste do que a falta de um alimento. Não é o meu caso, graças a Deus, sempre tenho visitas de parentes e amigos, mas a maior alegria para o meu coração é quando os meus filhos chegam.”

D. Hermantina faleceu em Araxá, no dia 25 de março de 1988. Após o velório, ocorrido na Igreja do Rosário, seu corpo foi trasladado para São Paulo a fim de ser cremado, atendendo a um desejo seu.