CALMON BARRETO

Patrono da Instituição

 

Calmon Barreto de Sá Carvalho nasceu em Araxá em 20 de novembro de 1909, filho de Anníbal Barreto e Alfonsina Carvalho Barreto. Passou os primeiros anos da infância na Fazenda Garimpo do Ouro, propriedade da família. Estudou no Grupo Escolar Delfim Moreira, na Escola Nossa Senhora Auxiliadora e no Instituto Brasil, onde conheceu o professor baiano Pedro Leopoldo Vieira, que foi uma grande referência para a sua vida, especialmente sobre os direitos humanos. Ainda criança, foi considerado o primeiro da turma e se destacou, desde então, nas aulas de artes, fazendo desenhos e gravuras.

Durante as aventuras da infância, quando passava o dia brincando nas beiras dos córregos da cidade, pôde conhecer o barro tipo “tabatinga” e começou a moldá-lo e criar figuras para assustar as pessoas. Seu primeiro passo para o terreno das artes das esculturas!

Calmon teve oportunidade de conhecer muito de arte com o Pedro Leopoldo, formado pela Escola de Belas Artes da Bahia, que foi contratado para decorar as paredes do casarão do coronel Adolpho de Aguiar, vizinho de seus pais. Foi quando começaram os primeiros contatos com a pintura.

Em 1921 Calmon inicia suas aulas de arte com o Mestre Leopoldo. Eram horas e horas de aula que o artista nem sentia passar. Durante um ano ele vivenciou a fase “mais deliciosa de sua vida”.

Em março de 1922 foi morar com familiares na cidade do Rio de Janeiro. Era sua expectativa aprimorar seus estudos nas artes de desenhar, pintar, gravar, dentre outros. Aos doze anos, Calmon Barreto começou a estudar na Casa da Moeda, no Rio de Janeiro, frequentando também a antiga Escola Nacional de Belas Artes, onde aperfeiçoou-se em gravura de medalhas com Augusto Girardet, a segunda grande referência artística na sua vida.

Participou várias vezes do Salão Nacional de Belas Artes e sempre agraciado com boas premiações. Ao expor no Salão Nacional de Belas Artes, em 1929, concorreu na Seção Gravura de Medalhas e Pedras Preciosas e obteve o Prêmio de Viagem à Europa, a maior premiação, no Brasil, até então. Ganhou com a obra “O Índio” (gravura de metal a buril). Foi para a Itália, aconselhado por Girardet. Lá, matriculou-se na "Real Scuola dell´Arte della Medaglia", anexa à Casa da Moeda da Itália. Regressando ao país, tornou-se mais tarde professor da antiga Escola Nacional de Belas Artes.

A partir de 1951 exerceu, interinamente, a cadeira de Anatomia e Fisiologia Artística, na qual seria efetivado como catedrático, em 1954. Em 1961, assumiu a direção da Escola, que exerceu até 1965.

Numa primeira fase, que chamaria de acadêmica, sua produção estava voltada para o atendimento de solicitações de órgãos públicos, principalmente da Casa da Moeda e de clientes. Foi uma fase dura, na qual pouco tempo lhe sobrava para expandir seus anseios artísticos. Na sequência, quando os problemas para sobreviver estavam praticamente resolvidos, revelou seu romantismo nas esculturas e nas telas que foi produzindo. Sua pintura teve como um dos cenários inspiradores Cabo Frio, onde tinha uma casa na qual vários amigos artistas se faziam presentes.

Retornou à sua cidade natal em 1968, quando passa a morar com sua irmã Cordélia. Na bagagem trazia vários prêmios como medalhas de ouro, prata e bronze, nas categorias de gravura e escultura e muita experiência como ilustrador. Procurou dedicar-se ao estudo da história e da cultura regionais. Tornou-se um pintor-historiador, legando imagens que se configuram como fontes históricas. A paisagem regional, os personagens, as tradições, as origens, os costumes e as mentalidades passariam a compor as telas de Calmon. A temática adotada passou a mostrar cenários de índios, bandeirantes, tropeiros e suas funções de submissão, de autoridade, de luta pela sobrevivência.

Por encomenda da administração municipal (1975-1982), Calmon produziu, em 1977, a Galeria dos Ex-Prefeitos de Araxá. As obras estão expostas na parede da Prefeitura Municipal, desde sua inauguração, em setembro de 1978.

Quando a Fundação Cultural Calmon Barreto - FCCB foi criada, com o objetivo de solucionar uma lacuna cultural na cidade, um grupo de pessoas, imbuído de sensibilidade e comprometimento com a arte e a cultura, escolheu-o como patrono, grande incentivador dessa criação.

O homenageado viu nascer a Fundação e lisonjeou-se com a escolha de seu nome, embora não se considerasse merecedor desse mérito. Com ela sonhou e sofreu nos seus primeiros anos, fase de grandes desafios e problemas financeiros. Na década de 1980, o patrono colaborou com a instituição ao doar uma obra de sua autoria, intitulada “A Chegada do Zebu no Brasil” e que esteve exposta na agência do Banco do Brasil. A finalidade era que ela servisse de meios para angariar fundos e salvar a instituição das dificuldades. Porém, alternativas foram encontradas e, hoje, essa obra doada compõe o acervo da instituição. Na mesma época, presenteou a Fundação com o baixo-relevo em gesso patinado - “Batalha dos Guararapes” - premiado, em 1939, com Medalha de Ouro, no Salão Nacional de Belas Artes.

Com o título “Dona Beja recebe Calmon”, a Fundação realizou, pela primeira vez, a exposição de doze quadros de Calmon Barreto, no Museu Municipal Dona Beja, entre os dias 17 de julho e 05 de agosto de 1987.

O primeiro Salão de Artes Plásticas de Araxá foi idealizado por Calmon em 1988, cujo regulamento foi escrito por ele. Os certificados emitidos aos premiados, participantes e organizadores são verdadeiras relíquias, porque nelas consta sua assinatura.

De característica introspectiva e um modo bastante reservado, se sentia acanhado ao sair de sua casa-ateliê. Porém, no dia 13 de março de 1989, a solenidade de posse da nova Diretoria da entidade contou com a presença marcante do nosso artista maior. Visivelmente emocionado, aproveitou para percorrer as dependências da antiga sede da Estação, onde funciona a Fundação.

Desde a mais tenra idade, escreveu contos. Durante muito tempo eles foram publicados através das páginas semanais do “Correio de Araxá”. A Academia Araxaense de Letras referendou-lhe o dom da escrita e, após quatro anos residindo em sua terra natal, tornou-se membro em 1972. Apesar de possuir inúmeros trabalhos literários, somente em primeiro de junho de 1989 é que uma obra sua foi editada – o livro de contos “Araticum” – Histórias de Calmon Barreto.

Após o falecimento do artista, em 09/06/1994, a Fundação Cultural Calmon Barreto idealizou, e fez acontecer, em outubro de 1995, uma retrospectiva póstuma em homenagem ao patrono, expondo algumas de suas obras, provisoriamente. A exposição teve a curadoria de José Otávio Lemos e o fortíssimo apoio de Fernando Barreto, irmão caçula de Calmon. O catálogo da mostra contou com a apresentação de Alberto Beuttenmuller, importante crítico de arte. A própria comunidade, durante os mais de dois meses da mostra, reivindicou para que a ação provisória fosse uma concretização: criar um museu para abrigar as obras do artista maior desta terra. Pelo mesmo curador, outra exposição individual do artista foi realizada na Galeria da agência do BDMG em Belo Horizonte, em 1996, com edição de um belíssimo catálogo.

Em 17 de junho de 1996 foi criado o Museu Calmon Barreto, subordinado à FCCB, inaugurado oficialmente em 19 de dezembro do mesmo ano. O museu expõe muitas obras dele, com diferentes técnicas e épocas.

“O uso da imagem como fonte: Calmon Barreto e a epopéia da colonização de Minas Gerais nos séculos XVIII e XIX”. Com este tema, duas historiadoras ministraram um curso durante o XI Encontro de História, na Universidade Federal de Uberlândia em 1998. Dentre as fontes para a interpretação da História, as linguagens visuais, como as artes plásticas, servem para o estudo da colonização do oeste de Minas Gerais.

Anualmente, em 19 de dezembro, data em que se comemora o aniversário de Araxá, o Governo de Minas Gerais agracia setores e pessoas com a “Medalha Calmon Barreto”. A Medalha foi instituída pela Lei Nº 13.371/1999 com o objetivo de homenagear personalidades, empresas, instituições, associações e representantes de segmentos diversos, que, de alguma forma, destacaram-se por suas atuações em prol do desenvolvimento das atividades culturais e turísticas de Minas Gerais. Sem dúvida, tal medalha está no rol das mais importantes conferidas pelo Governo Mineiro, juntamente com a Medalha Santos Dumont, a Medalha Juscelino Kubitschek, a Medalha Chico Xavier e a Medalha da Inconfidência, que também foi entregue ao Calmon numa cerimônia em Ouro Preto.

O Museu Calmon Barreto recebeu, durante as comemorações do centenário de nascimento de Calmon, em novembro de 2009, a exposição de desenhos e o lançamento do livro, até então inédito, “Banco de Ripas”, com contos do artista-escritor.

Em novembro de 2010, a Fundação lançou uma edição comemorativa sobre a vida e obra do artista, editada na revista “O Trem da História”.

Em 2012 a cidade passou por um processo de remodelação urbana na área central. Algumas esculturas de Calmon, que estavam distribuídas na avenida Antônio Carlos, foram transferidas para a porta do Museu Calmon Barreto, oportunizando ao visitante conhecer suas mais variadas produções artísticas.

No dia 3 de maio de 2013, o Museu do Zebu em Uberaba/MG "Edilson Lamartine Mendes" recebeu uma individual de Calmon Barreto. Era a segunda vez que outra cidade sediava uma mostra do artista, que continham obras de diferentes fases e um lote com o tema do gado Zebu, muito presente em suas telas. Na ocasião foi lançado um catálogo sobre a mostra, com imagens das obras expostas. Calmon pintou muitas telas com cenários rurais e temas da pecuária. Dele é a primeira referência ao nome da raça zebuína brasileira, o Indubrasil, que também foi denominado anteriormente Induaraxá.

Calmon faleceu aos 84 anos em Araxá. Homem simples, sem nenhuma arrogância, de conhecimentos profundos, idealista, coerente, de talento nato e expandido. Tem seu nome, obra e trajetória reconhecidos e admirados por seus conterrâneos; pelo legado artístico, cultural e humano deixado para a posteridade. Está eternizado na Fundação, no Museu e na memória de muitos.

Como bem disse Guimarães Rosa: "O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas". A Fundação Cultural Calmon Barreto se orgulha de seu Patrono!