12/05/2021 - Piano Francês Maria Magalhães

Maria de Magalhães nasceu em Oliveira/MG em 27/10/1873. Ela ganhou o Piano e a banqueta de seu pai, Antônio Chaves de Magalhães, o “Capitão Chaves”. Em fins de 1903, a convite do Cel. Adolpho Ferreira de Aguiar (Ex-vereador e líder político), a família do “Capitão Chaves” veio de Oliveira/MG para fixar residência em Araxá. Ele estava acompanhado da esposa, Maria José de Castro, e dos onze filhos: Maria, Cândida, Olga, Alice, Maria José, Rosa, Antônio, Mário, Lauro, Sílvia e Laura. Aqui, todos trabalharam e muitos deixaram numerosa descendência. O “Capitão Chaves” teve seu nome ligado à educação, à administração pública e à política local, se tornando um importante cidadão ao ponto de nomear uma rua na região central da cidade. 
Em 1904, Araxá enfrentava profunda deficiência educacional. Preocupado em contribuir com a melhoria desse cenário, “Capitão Chaves” inaugurou a Escola N. Sra. do Carmo, na Praça Cel. Adolpho, de ensino particular e apenas para meninas. Ele incumbiu às filhas já formadas o cargo de professoras na Instituição. Para a primogênita Maria de Magalhães, coube a função também de dirigi-la. Essa Escola teve duração efêmera. Logo depois, a família buscou apoio para criar outra que perdurasse e tivesse um maior alcance para a população. 
Poucos anos depois, com o empenho do Governo de Minas, da Câmara Municipal de Araxá, da família “Chaves de Magalhães” e da comunidade local, nasceu no dia 28 de setembro de 1911, o primeiro estabelecimento de ensino público na cidade — o Grupo Escolar Delfim Moreira. Conforme relatos, D. Iaiá e duas de suas irmãs, também professoras, visitaram inúmeras casas para esclarecer a população quanto à importância da educação na formação humana. Maria de Magalhães foi nomeada pelo Governador do Estado como a primeira diretora do Grupo Escolar, permanecendo no cargo até 1943. 
Extremamente instruída e com gostos refinados, D. Iaiá, dividia seu tempo entre o magistério e o amor ao piano. Provavelmente, esse exemplar tenha sido um dos primeiros a chegar em solo araxaense na primeira década do século XX. 
O piano e a banqueta teriam vindo da Europa para o Brasil, de navio. O restante da viagem até Araxá foi concluído por estrada de terra, através de carro-de-boi. A habilidade da pianista em tocar o instrumento podia ser notada por familiares, amigos e até por animais. Conta-se que, por inúmeras vezes, o gado se aproximava da janela da sala para ouvir o som emitido da residência. 
Em 1965, o ano em que Araxá comemorou o centenário de emancipação política, a cidade ganhou um novo estabelecimento de ensino. Tal conquista teve D. Iaiá como grande incentivadora. José de Magalhães Pinto, Governador do Estado, criou o “Grupo Escolar” no dia 06 de maio, através do Decreto-Lei nº 8.281. Inicialmente, por falta de nome, ele foi batizado de “Grupo Central” e funcionou por dez anos no prédio do Instituto Educacional Maneira, até ganhar sede própria e ser transferido para a atual localidade em 1975. 
Para homenagear Maria de Magalhães e perpetuar seu nome na história da cidade, a comunidade araxaense reivindicou ao prefeito municipal, Domingos Santos, que o Grupo levasse o nome daquela que tanto fez por Araxá. O pedido foi prontamente atendido no dia 12 de outubro. Tal mudança foi publicada no Diário Oficial do Estado, passando a chamar-se “Grupo Escolar Maria de Magalhães”. A homenageada se sentiu extremamente honrada quando soube por telegrama que ele receberia seu nome. No mesmo ano, ela foi convidada a ser paraninfa da turma de concluintes da quarta série do antigo curso primário. 
Nos dois anos seguintes, D. Iaiá pode testemunhar o quanto seu esforço gerou frutos para Araxá, cidade que a acolheu com respeito e admiração. Solteira e sem filhos, ela se dedicou por toda sua vida ao magistério. De baixa estatura, sua presença era sempre notada pela meiguice e elegância, características facilmente conferidas também pela sua determinação e eficiência. D. Maria de Magalhães faleceu em Araxá no dia 16/07/1967 onde também foi sepultada. 
A sobrinha Heloísa, filha de Maria José, irmã de D. Iaiá, herdou o valioso conjunto — piano e banqueta. No ano seguinte, em 1968, Joaquim Tobias, adquiriu o piano e a banqueta de sua irmã Heloísa a fim de presentear sua filha Rachel, que à época, estudava piano. Para que a memória de sua tia-avó nunca fosse esquecida, Rachel usou e preservou as duas relíquias por muitos anos, como uma saudosa e respeitosa lembrança da mulher que tanto deu orgulho para a família. 
Em fevereiro de 2018, a sobrinha-neta de D. Iaiá, Rachel Ribeiro de Paiva Kux, doou o piano e a banqueta para a Fundação Cultural Calmon Barreto de Araxá. O ato foi reconhecido em cartório, conforme trecho a seguir: “Declaro, para os devidos fins, que minha doação à Fundação Cultural Calmon Barreto, com sede em Araxá/MG, de um piano da marca Pleyel, número de série 132941 e respectiva banqueta da mesma madeira e estilo e estofado de palhinha original, que pertenceu à Maria de Magalhães, é feita de livre e espontânea vontade.” 
Os preciosos exemplares franceses estiveram no Museu Calmon Barreto de fevereiro de 2018 a março de 2021. Com a mudança do acervo do Museu para uma nova sede, ambos foram transferidos para o foyer do Teatro Municipal. Desta forma, poderão ser utilizados em recitais, recepções ou concertos, por pianistas profissionais que queiram preencher o ambiente com o mesmo som que um dia D. Iaiá tocou os corações de todos de sua época. Assim, a Fundação Cultural Calmon Barreto faz reverência à memória da grande educadora “Maria de Magalhães”, mulher culta, elegante, guerreira e inesquecível para a história de Araxá. 

 

Pesquisa e texto: Keyla Machado/FCCB
Maio/2021.


Fontes utilizadas: 
SOBRE A ORIGEM DAS FAMÍLIAS. Fundação Cultural Calmon Barreto: O Trem da História, nº 03, Dez./1991, p. 06. 

A EDUCAÇÃO EM ESTUDO. Fundação Cultural Calmon Barreto: O Trem da História, nº 09, Jun./1993, p. 09. 

EDUCAÇÃO EM ARAXÁ. Fundação Cultural Calmon Barreto: O Trem da História, nº 43, Abril/2007, pp. 29 e 30. 

100 ANOS ESCOLA ESTADUAL DELFIM MOREIRA. Fundação Cultural Calmon Barreto: O Trem da História, nº 48, Março/2012, pp. 15-19. 

ARAXÁ, 150 ANOS DE CIDADE. Fundação Cultural Calmon Barreto: O Trem da História, nº 49, Julho/2015, pp. 21 e 23. 

ESCOLA ESTADUAL MARIA DE MAGALHÃES — 1965-2015. Revista Voz Estudantil: edição especial em comemoração aos 50 anos da Escola. 2015, p. 03. 

LARA, Mário. Nos Confins do Sertão da Farinha Podre. Belo Horizonte: EGL Editores Gráficos, 2009. 

Depoimento: Rachel Ribeiro de Paiva Kux/Abril-2021.