MAESTRO ELIAS PORFÍRIO DE AZEVEDO

 

Filho de Elias Pereira de Ávila e Ana Porfírio da Rocha. Adotou o sobrenome Azevedo por decisão pessoal.

Cantor, instrumentista, compositor e arranjador, assim foi o Maestro Elias Porfírio de Azevedo, nascido em Araxá, a 18 de setembro de 1880. Tendo perdido seu pai com poucos anos de vida e desgostoso com o novo casamento de sua mãe foi, ainda menino e a seu pedido, estudar no Seminário Nossa Senhora da Assunção, em Mariana/MG, primeiro estabelecimento de ensino de Minas Gerais, de onde só regressou a Araxá aos 17 anos.

No Seminário Elias foi educado, cultivou o espírito religioso, o prazer pela leitura e teve ali condições para desenvolver seu talento musical latente.

Com apenas 19 anos de idade casou-se com Maria Dolores de Ávila, de 17 anos. Dotada de sensibilidade musical, tocava violão e possuía bela voz de soprano. Participava do coro nas cerimônias religiosas. Tiveram onze filhos e todos estudaram música. À exceção do mais velho, que optou pelo sacerdócio, todos os demais foram músicos. As duas filhas, não obstante fossem boas flautistas e pianistas, não participaram das atividades da banda e da orquestra como os outros irmãos: como se usava na época, só faziam música no recesso do lar.

Elias mandou vir, de Uberaba, os melhores professores para lecionar música aos seus filhos: o maestro Elviro do Nascimento, o professor Benedicto Nascimento e o professor José Porfírio Maciel, este acompanhado pela filha pianista Jupira.

O Maestro Elias era dono de vasta cultura, lia muito, assinava jornais e revistas do país e do exterior. De temperamento reservado, introspectivo, modesto ao extremo, era afável e generoso com todos.

Como industrial, comerciante e empresário de diversão, possuiu casas comerciais em diferentes ramos. Padaria Modelo, Torrefação São João, Moinho de Fubá, Engenho de Cana, Armazém, Açougue, Fábrica de Ladrilhos, dois cinemas (Capitólio e Cine-Theatro Trianon), essas múltiplas atividades demonstravam a sua habilidade e agudeza de inteligência. Possuía um cinematógrafo importado, que alegrava seus familiares e amigos visitantes em sessões domingueiras.

Seu talento revelou-se também nas artes cênicas. Foi diretor, ator, cantor e ensaiador de peças teatrais e, em 1904, fundou uma associação de arte dramática no Theatro Avenida.  No local que hoje corresponde à rua Mariano de Ávila, 545, ele apresentava muitas peças e trazia companhias de outras cidades.

Como arranjador seu trabalho foi intenso. Como compositor escreveu um dobrado (sem título) e a valsa “Saudades da Minha Mãe”. O Maestro Elias mantinha estreito intercâmbio com compositores e instrumentistas de várias cidades. Viajava regularmente para São Paulo e Rio de Janeiro onde assistia às grandes companhias de balé e ópera, nacionais e internacionais.

Em 1906 criou a União Araxaense, uma banda com doze instrumentistas que, mais tarde, se transformou na Banda Santa Cecília, acrescida com alguns de seus filhos. Esta Banda tocava em reuniões cívicas, bailes, carnavais e, nas cerimônias religiosas, era comum ouvir a voz de baixo típica do Maestro Elias.

Foi, entretanto, nas artes que sua inteligência e talento se revelaram amplamente. Idealista, Elias sonhou construir um espaço cultural dedicado ao lazer. Em 1910, este sonho começou a se tornar realidade ao fazer os alicerces de um cine-teatro, no terreno logo acima de sua residência, na Avenida da Abadia, hoje, Antônio Carlos.

Por falta de recursos financeiros, este empreendimento ficou parado por doze anos. Depois de concluído, o Cine Trianon constava de sala de espera, salão, frisas laterais, camarotes, galeria e palco. As poltronas vieram de fora e eram facilmente retiradas para dar lugar a um salão onde se realizavam festas, casamentos, bailes de devotos da maior festa da Igreja, a Festa do Divino.

As sessões de cinema eram precedidas por apresentações da Orquestra Irmãos Porfírio, peças teatrais, palestras e manifestações culturais que dinamizavam a casa de espetáculos. À música, o Maestro Elias dedicou todo entusiasmo e a maior parte de sua vida. Participava de todas as atividades da Banda que criara e mais tarde dirigia os filhos na Orquestra Irmãos Porfírio. Exigente na execução, submetia aos músicos a inúmeros ensaios.

A Orquestra, que nada cobrava por suas apresentações, participou e influenciou a vida artística e social de Araxá por mais de vinte anos. Eram muito apreciadas as “Tocatas” realizadas na primeira sala, à direita de quem entra na casa. Durante as apresentações, as janelas ficavam abertas, as luzes acesas e o público permanecia na rua para assistir e, ao final, aplaudia. Essa sala, hoje, abriga a memória da Orquestra. Foram seus integrantes: Lamartine (trombone), Mário (requinta, clarineta, bombardino e saxofone), Vande (flauta e violoncelo), Apulchro (piano) e Gusmão (acordeom).

A residência do Maestro funcionava como centro cultural da cidade. Para lá convergiam os artistas, os ouvintes da boa música e os intelectuais responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção da cultura de Araxá. A influência do Maestro Elias é sentida, até hoje, nos hábitos formados de execução musical, não somente na família, mas também no âmbito social geral. Parentes e amigos se reuniam no casarão da avenida ou jardins defronte para ouvir as “Tocatas” do Maestro Elias: isto serviu como estímulo para que outros jovens se dedicassem ao estudo profissional da música.

O Maestro Elias deixou seguidores de seu trabalho musical: a Banda Santa Cecília, a Banda Lira Araxaense e outros conjuntos. Faleceu em Araxá no dia 27 de agosto de 1965.

No dia 29 de abril de 1992, através da Lei Municipal Nº 2.520, é criada a Escola Municipal de Música Maestro Elias Porfírio de Azevedo, Departamento integrante da Fundação Cultural Calmon Barreto, espaço onde se produz cultura e formam-se talentos.

No dia 11 de setembro de 1995, através da Lei Municipal Nº 3.039, é instituído o “Dia da Tocata”, a ser comemorado anualmente no dia 18 de setembro e constar no calendário oficial do município.

 

Fontes:

FUNDAÇÃO Cultural Calmon Barreto. “Lugar de Memória”. Araxá: Gráfica Santa Adélia, 2001.

FUNDAÇÃO Cultural Calmon Barreto. “O Trem da História”. Gráfica Planeta: Araxá, Nº 36, 2003.

FUNDAÇÃO Cultural Calmon Barreto. “Memorial de Araxá”. Araxá: Gráfica Santa Adélia, 2008.

BITTAR, Maria Ângela de Azevedo. “Elias Porfírio de Azevedo e a Música em Araxá”. São Carlos/SP: Gráfica Futura, 2014.