COMPLEXO HIDROTERMAL DO BARREIRO
Histórico: Há quem pense que a inauguração do Complexo Turístico do Barreiro, com o célebre descerramento da placa pelo Presidente Getúlio Vargas na rotunda das Termas, tenha sido o início da vida turística de Araxá. Na realidade, aquele 23 de abril de 1944, simbolizou o coroamento de uma vocação que se manifestava desde 1890, aproximadamente.
Os primeiros estudos científicos sobre as águas sinalizaram para as possibilidades do seu uso no tratamento de doenças, para a fabricação de produtos industriais como o sabonete de lama e o sulfuroso e para a transformação de Araxá numa estação de cura e veraneio.
É neste sentido que a cidade e o Barreiro vinham se preparando desde o final do século XIX. À Câmara Municipal cabia fazer as leis bem como executá-las. Os vereadores e o presidente da Câmara — que também exercia o cargo de agente do executivo — administravam o município, inclusive o local das fontes na época também chamado de Bebedouro.
A transfiguração de Araxá em uma estância modelo, equiparada aos seus pares europeus, povoava o imaginário da população, particularmente daqueles que detinham o poder de decidir, como os homens públicos.
Depois de alguns insucessos na concessão de privilégios para o uso das águas, a Câmara deu início ao processo de desapropriação dos terrenos que envolviam as fontes.
Municipalização
Uma nova fase da história do Barreiro começou, então, com a municipalização das fontes e dos seus arredores. Em meio às intermináveis discussões sobre a legalidade ou não dessa medida e das ações judiciais dela decorrentes, o poder público municipal passou a conceder o direito de uso e gozo para que se realizassem serviços indispensáveis: estrada, balneário, hotéis, parques e jardins.
Novamente os acordos estabelecidos entre algumas empresas e a Câmara Municipal não resultaram no sonhado e eficaz aparelhamento da estância.
Ceder as fontes ao Estado de Minas Gerais, em 1915, foi a alternativa encontrada pela Câmara de Araxá. Acreditava-se que o governo mineiro reuniria as condições para executar as obras necessárias ao incremento turístico, pois o orçamento municipal disponível era escasso. Em contrapartida o Estado criou a prefeitura em 1915. Isso implicou a possibilidade de contar com um prefeito nomeado para administrar a cidade com o apoio direto, inclusive financeiro, do governo estadual.
Tais alterações na estrutura administrativa não trouxeram soluções imediatas. Problemas como a morosidade na construção da Estrada de Ferro ligando Araxá aos ramais próximos como Conquista, Uberaba e Ibiá foram um dos obstáculos ao acesso dos aquáticos. No entanto foram parcialmente tratados outros entraves, como a construção da estrada antiga e a do segundo balneário (antes havia apenas um balneário primitivo como era conhecido).
A imprensa local noticiava com freqüência o nome e a procedência das pessoas que transitavam pelas pensões e hotéis e reivindicava, sistematicamente, a construção de um hotel modelo e de praças e bosques que pudessem oferecer lazer aos visitantes.
Apelo
Em 1923, o Conselho Deliberativo da Câmara de Araxá uniu-se aos de Poços de Caldas, Cambuquira, Caxambu e Águas Virtuosas para juntos fazerem um apelo ao governo do estado: a elaboração de um plano para remodelar as estâncias. Tal proposta era a única capaz de corresponder às metas destas cidades como centros de repouso e de cura. E, mais ainda, caso as estâncias fossem aparelhadas adequadamente, o Estado poderia contar com lucrativa fonte de renda. Realmente vivia-se um momento de intensa valorização das estações balneárias.
Nos anos 20, além das águas, a atmosfera bucólica do Barreiro também atraía as elites que aqui chegavam para a temporada de banhos, de descanso e de jogos. O jogo era praticado nos hotéis por segmentos privilegiados, mas os bares não deixavam de oferecer o concorrido carteado.
Em 1925 o Governo Mello Vianna (1925-1926) chegou a elaborar um belo e não menos arrojado projeto para o Balneário, porém não executado.
Enquanto isso, as lentas ações que remodelariam o Barreiro abriram espaços à iniciativa privada. Os hoteleiros e empreendedores, de modo geral ancorados no poder curativo das águas para atrair turistas, investiam em produtos como a fabricação de sabonetes ou em propagandas. Existem referências indicando que, nesta época, a antiga fonte radioativa começava a ser chamada, informalmente, de Dona Beja. Pode-se deduzir que teriam sido estes os primeiros passos rumo à construção do mais célebre mito de nossa história.
Novos rumos
A década de 30 começou renovando a expectativa da população. Araxá continuou a cobrar pelos melhoramentos até que em 1933 o Governo Olegário Maciel (1930-1933) reativou o “projeto de obras da futura cidade balneária”. Uma comissão de engenheiros, dentre eles Andrade Júnior e Carvalho Lopes, foi encarregada de traçar o espaço da nova versão da estância. Os araxaenses, entusiasmados, viram, em 1936, aproximar-se o sonho de ganharem, agora sim, “bellos jardins para recreio dos veranistas e aqüistas”.
O conjunto das obras de todo o Parque do Barreiro tendo à frente o Grande Hotel e as Termas foi adiado para o Governo Benedito Valadares (1933-1945). Foram seis anos de trabalho ininterrupto que começou efetivamente em 1938. Após a cerimônia inaugural das Termas, do parque e dos jardins, da piscina e da Fonte Dona Beja, em 1944, as obras prosseguiram com a posterior conclusão do Grande Hotel (1945) e a da Fonte Andrade Júnior (1947).
Grande Hotel do Barreiro e Termas
O projeto, definido por uns como de estilo eclético e por outros como de estilo missões, assinado pelo arquiteto Luiz Signorelli foi realizado em parceria com o também arquiteto Rafael Berti, seu amigo e sócio que, embora tivesse seu diploma registrado no Brasil, não pôde assinar a coautoria por ser estrangeiro.
Signorelli assinou, também, o projeto da Praça dos Esportes com os vestiários e piscina.
Chama a atenção que apesar da xenofobia que o governo brasileiro exibia na época, um bom número de técnicos e especialistas de origem estrangeira prestara seus serviços na construção do Complexo Hidrotermal do Barreiro. Podemos mencionar entre eles Hans Petro Kiersulf, engenheiro especialista em concreto armado; Oto Smith, carpinteiro e Frederico Fritz, mecânico, contratados pela empreiteira ALCASAN.
Parte do mobiliário foi fabricada pela Casa Piancastelli & Filhos, em Belo Horizonte, e Lausbich Hirth projetou boa parte das peças que foram construídas no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
Os jardins foram projetados por Roberto Burle Marx. Os murais que decoraram a rotunda das termas foram assinados por Joaquim Rocha Ferreira, que utilizou para os mesmos a técnica da “encáustica”. Genesco Murta assinou as pinturas das galerias laterais.
Fonte Andrade Júnior
Seu estilo moderno contrasta com o do Grande Hotel e das Termas, porém, convivem em harmonia como os jardins de Burle Marx, que a circundam. Seu autor, Francisco Bologna, optou por uma estrutura em formato ondulado – de concreto armado e vidro – que abriga além dos bebedouros, um espaço onde são exibidas réplicas de fósseis de espécimes da fauna pré-histórica da região.
Fonte Dona Beja
A fonte de água radioativa foi batizada com o nome de Dona Beja que, segundo a lenda, costumava tomar banhos naturais no local. A autoria do edifício é atribuída ao arquiteto Rafael Hardy, os azulejos que decoram o interior são de autoria de Joaquim Rocha Ferreira. Na época a obra foi orçada em 281 contos.
Atualidade
Durante os 50 anos, desde sua abertura oficial até seu fechamento em 1994, o Grande Hotel e as Termas acumularam os estragos que a ação do tempo, a falta de manutenção e o descaso dos organismos responsáveis lhes infringiram.
Em 1994 o governo municipal decidiu solicitar a interdição, uma vez que, o estado calamitoso de suas instalações representava um perigo para os usuários.
Em julho de 1997, começaram os trabalhos de restauração sob a supervisão do IEPHA, órgão responsável pelo complexo, enquanto patrimônio tombado pelo estado.
Numa primeira etapa foram restauradas as Termas, as Fontes e os Jardins e em 19 de dezembro de 2001 o Grande Hotel, totalmente restaurado, bem como seu mobiliário original, foi reaberto sob a administração do Grupo Tropical-Varig. De 2005 a março de 2010 foi administrado pelo Grupo Ouro Minas. Desde março de 2010 está sendo administrado pelo Grupo Tauá.
Fonte: Arquivos da Fundação Cultural Calmon Barreto.