Histórico: O sobrado que abrigou a Câmara Municipal de Araxá foi conhecido no passado como “Sobrado de Josefa Pereira”.
Provavelmente sua construção tenha sido iniciativa de Desidério Mendes dos Santos, marido de Josefa, em algum momento entre a 2a e 3a décadas do século XIX.
Como a maioria dos primeiros habitantes, Desidério chegou junto com seus pais e irmãos, provenientes de Tiradentes (antiga Vila de São José Del Rei), atraídos pelas terras incultas e fartas do sertão dos Araxás.
Era filho de Felizarda Clara de Santa Anna e do Capitão Manoel Mendes dos Santos, grande proprietário de terras que ao morrer em 1816, deixou entre outras propriedades rurais, 3 sesmarias de 3 léguas quadradas de extensão cada uma.
Josefa nasceu em Desemboque, filha do Capitão Manoel Gonçalves da Silva e de Anna Pereira da Silva, esta filha natural de Clara Crioula.
Em 1838, Desidério Mendes estando gravemente doente, decidiu legalizar sua união com Josefa, sua companheira de muitos anos, com quem tivera um filho, morto ainda criança. Fez também seu testamento nomeando-a testamenteira e herdeira.
Tanto o casamento quanto o testamento foram contestados pela família de Desidério, após o seu falecimento, em um processo que demorou vários anos, porém finalmente decidido em favor de Josefa.
Foi assim que o casarão da esquina da Praça da Matriz com a Rua das Gerais avaliado em 4$500,00 réis, tornou-se o “Sobrado de Josefa Pereira”.
Tudo indica que este sobrado foi dividido mais tarde em duas partes, uma onde morava Josefa e outra onde morava seu sobrinho Sotero Ribeiro Rosa, que foi delegado de polícia e um dos autores do processo movido contra os líderes do movimento liberal de 1842.
No mesmo ano, Josefa fez seu testamento nomeando-o herdeiro universal dos seus bens, ou na sua ausência, seus filhos e herdeiros. Por este motivo, quando Josefa faleceu em 1854 e tendo já falecido também seu sobrinho, os filhos deste herdaram o sobrado avaliado então em 3$500,00 réis.
Matheus, Joaquim, José Sotero Ribeiro Rosa e suas irmãs Maria Claudina e Ana venderam separadamente suas partes a Elias Antônio de Ávila e seu sogro Bartholomeu Ferreira da Silva no período entre 1855 e 1860.
Entre 1861 e 1863, Bartholomeu comprou do genro e de Thomas Fernandes Martins, morador no Rio de Janeiro, as partes remanescentes do sobrado, adquiridas dos herdeiros de Sotero Ribeiro Rosa, visto que junto com o imóvel foi adquirida também a mobília. Acreditamos que foi a partir daquele ano que o sobrado passou a ser a residência, em Araxá, da família Ferreira.
Com a morte de Bartholomeu Ferreira, ocorrida em 1872, sua filha Francisca de Paula e Silva, casada com Elias Antônio de Ávila, herda o sobrado estranhamente avaliado no inventário em apenas l conto de réis.
A estranheza diante de tal desvalorização se justifica, já que o valor da parte comprada nove anos antes de Thomas Fernandes Martins foi de 600 mil réis e a outra comprada de José Sotero em 1860, de 350 mil réis. Acreditamos ter sido um subterfúgio com o objetivo de diminuir o pagamento das taxas e impostos sobre imóveis ou heranças.
É provável que durante os 20 anos que pertenceu ao Major Elias Antônio de Ávila e sua mulher, o sobrado tivesse passado por reformas e melhoramentos que aumentaram seu valor, mas o fato é que 3 anos depois, em 1895, seus herdeiros, filhos, genros e netos venderam à Câmara Municipal de Araxá pelo preço de 6 contos de réis.
AS FUNÇÕES
Acreditamos que tanto este como outros sobrados, teria sido sedes provisórias da Câmara Municipal antes da aquisição da sede própria.
O certo é que durante a mudança da moeda ocorrida no Brasil a partir de 1833, quando foi instituída a cédula de papel, as remessas enviadas à Câmara Municipal para circulação no município, ficavam depositadas na casa de Desidério Mendes até ser instalada uma “Casa de Troca”.
Em 1895 o sobrado tornou-se definitivamente a sede do governo de Araxá, funções que combinou com a de escola, entre 1895-1897, quando funcionou no andar superior do prédio o Colégio São Luiz, de instrução secundária, dirigido pelo Dr. Eduardo Montandon.
Com a criação da Prefeitura em 1915, a sede do legislativo abrigou também o executivo, mantendo estas duas instituições até 1977 quando a Prefeitura adquiriu sua sede própria. A Câmara Municipal de Araxá funcionou até 2011 quando foi construída uma nova sede.
O prédio tombado pela lei Orgânica do Município de Araxá, artigo 201 de 21 de março de 1990.
O Museu da Memória Legislativa Araxaense foi criado em 18 de maio de 2010, através da resolução N° 418, com a finalidade de preservar para as gerações futuras o acervo de documentos, publicações oficiais, móveis e objetos da Câmara Municipal de Araxá. O seu acervo é constituído por objetos, fotos, obras de valor artístico, documentos oriundos do processo legislativo, painéis e bens móveis da Casa Legislativa. Ele guarda a história dos quase dois séculos de história do Legislativo araxaense. A inauguração se deu no dia 22 de dezembro de 2011 no prédio da antiga Câmara Municipal – o “Palácio Nagib Feres”
Em novembro de 2014, o prédio recebeu setores do Executivo, ali funcionando até setembro de 2018. Nesse período, o atendimento do Museu ficou paralisado. Com a transferência do Executivo para a sede própria, o prédio passou por adaptações e teve seu acervo ampliado e transferido para o segundo piso do casarão. Sua reinauguração ocorreu no dia 21 de março de 2019.
Fonte: Arquivos da Fundação Cultural Calmon Barreto.