ESTAÇÃO DE ITAIPU

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE ITAIPU

 

Histórico: A Estação Ferroviária de Itaipu integra um conjunto de Estações construídas na década de 1920, a partir da criação do ramal 275 km da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM), ligando Ibiá a Uberaba e passando por Araxá.

Acompanhando o desdobramento do sistema de transporte ferroviário no país, este ramal foi privatizado e, hoje, pertence à Ferrovia Centro-Atlântica S.A. (FCA). À época de sua construção, porém, contava com 16 Estações, a saber: Ibiá, São Pedro, Cel Adolpho, Estevão Lobo, Tamanduapava, Capivara, Ibitimirim, Alpercatas, Santa Juliana, Rio das Velhas, Almeida Campos, Itiquapira, Batuíra, Amoroso Costa, Araxá e Itaipu.

Embora estejam todas desativadas, apenas uma dessas Estações cumpre outra função, diferente daquelas paras as quais foram destinadas. É esse o caso da de Araxá.

A Estação de Itaipu, hoje abandonada, encontra-se situada no povoado de mesmo nome, cujo significado em tupi-guarani refere-se genericamente à “água que sai dentre pedras”, (Bueno, 1987), embora tal explicação exija outros estudos. Este povoado localiza-se no espaço geográfico entre os atuais municípios de Araxá (distante 35 km) e de Perdizes (há 60 Km de distância).

Construída às margens dos trilhos da antiga EFOM, no período entre 1921 e 1926 — quando foi inaugurada, em 19 de novembro, simultaneamente a de Araxá — a Estação de Itaipu é inegavelmente um marco identitário do lugar. Provavelmente, a equipe que a construiu foi a mesma que projetou a Estação de Araxá.

Para oferecer suporte às antigas Maria Fumaças e seu conseqüente reabastecimento periódico exigia-se um grande número de Estações e de funcionários para mantê-las ativadas.

Em torno de Itaipu formou-se uma comunidade cujo movimento conseguiu, ao final dos anos 20, “... reunir 500 pessoas à espera dos trens, trazendo cargas, encomendas, embarques e desembarques de passageiros (...)” (Curi, 2000).

A partir de 1930 a Estação inicia a venda de passagens, provocando estímulos à sua movimentação diária e ao seu crescimento espacial e demográfico. Dentre as construções existentes no seu entorno encontra-se a atual Escola Municipal Eunice Weaver, fundada em 1929.

Em 1938, o antigo distrito de Araxá chamado Nossa Senhora da Conceição, hoje município de Perdizes, desmembrou-se de sua sede, resultando na primeira transformação significativa na vida do povoado e de sua própria Estação de Itaipu.

Com a emancipação de Perdizes, o povoado dividiu-se, curiosamente, em duas áreas assim desenhadas: o lado araxaense e o lado perdizense, sendo que, desde então, a Estação Ferroviária foi definida como parte integrante do município de Araxá.

A partir da década de 30, 1931 especificamente, a EFOM, até então federal, foi arrendada ao governo de Minas Gerais, fundindo-se com as duas ferrovias: a Estrada de Ferro Sul de Minas e a Estrada de Ferro Paracatu. A fusão deu origem à Rede Mineira de Viação (RMV), empresa responsável pelas Estações da região, inclusive a de Itaipu, até 1965.

Os anos 50 dão início às transformações do setor ferroviário com a política de priorização do transporte rodoviário, empreendida por Juscelino Kubitscheck. Nesse sentido, o processo de urbanização verificado no país e as mudanças dele decorrentes tais como a “modernização” no campo e a alteração nas relações de trabalho e de produção transformaram a realidade de Itaipu e, especialmente, a de sua Estação Ferroviária.

O fato é que na década de 1970, Itaipu “possuía uma população maior do que a atual, chegando a contar com três vendas, duas lojas e uma farmácia, mais a escola” (Curi, 2000). Segundo esta mesma fonte, até 1979 as Maria Fumaças transitaram por esse ramal sendo que, até 1980, garantiram o transporte de passageiros.

Assim, nas suas primeiras décadas, o cotidiano da Estação de Itaipu compunha-se de um conjunto de usuários como viajantes, visitantes e ferroviários. Freqüentemente funcionava como ponto de referência aos “comboios” que ali aguardavam o momento para prosseguirem o percurso (Curi, 2000). Nesse ambiente acrescenta-se a atividade de retirada de pedras utilizadas no “leito da linha férrea (...)”.

Todo o movimento da Estação acabava por ressoar nas atividades produtivas do lugar, bem como, nos momentos de convivência e socialização dos moradores, reavivados com a realização de eventos festivos.

O panorama de Itaipu nos dias de hoje apresenta, por um lado, a dualidade do seu território. No espaço pertencente a Araxá encontra-se o prédio da antiga Estação Ferroviária, 20 casas, 2 vendas, 1 posto de saúde, uma escola de ensinos fundamental, médio e outro correspondente ao supletivo. Quanto ao lado de Perdizes, ali podem ser vistas 15 casas, 1 praça, 1 igreja católica devotada a Santo Antônio, 1 salão paroquial e 1 dormitório da ferrovia construído pela RFFSA.

Contudo, o povoado mantém apenas o dormitório e as 3 linhas em frente à Estação. Estas últimas são utilizadas, eventualmente, para manobras de trens e ou apoio aos grupos de carros ou caminhões que passam transportando mercadorias. A pedreira, a antiga “Maria Fumaça” (desativada desde os anos iniciais de 1980) e o prédio da Estação são suportes de lembranças de um tempo passado.

Somam-se aos efeitos da urbanização, na desativação da Estação de Itaipu, as alterações nas políticas públicas de transporte adotadas no país. Assim é que para o povoado de Itaipu, nascido em torno da linha férrea, a Estação tem resistido como um marco de memória da população. A Estação é o elo de identidade que sustenta ainda o pequeno povoado e o faz presentificar o passado.

A Antiga Estação Ferroviária de Itaipu é, com certeza, senão a principal, um dos mais importantes marcos para o assentamento da comunidade de Itaipu. Possui um estilo que reúne características próprias da arquitetura ferroviária mineira, desenvolvida no primeiro quartel do século XX.

O prédio da Estação Ferroviária de Itaipu foi tombado pelo Decreto Nº 639 de 23 de dezembro de 2002 e restaurado pela Prefeitura Municipal de Araxá em 2003.

 

Fontes: Arquivos da Fundação Cultural Calmon Barreto

Texto: Glaura Teixeira Nogueira Lima/2003.