IGREJA MATRIZ DE SÃO DOMINGOS

IGREJA MATRIZ DE SÃO DOMINGOS

Histórico: Durante quase toda a primeira metade do século XX, entre 1911 e 1948, Araxá assistiu a uma verdadeira epopéia: o planejamento e a construção da Igreja Matriz de São Domingos.

Aconteceu uma série de atitudes heróicas, desde o início do empreendimento, com o vigário Pe. André Aguirre. Nesse longo tempo estiveram envolvidos a Igreja, o poder público e a comunidade católica em geral.

Na ocasião da chegada do Pe. Aguirre Araxá contava com 6 (seis) igrejas: Matriz de São Domingos, Santa Rita, Nossa Senhora d’Abadia, São Geraldo, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Conceição. Considerando todas elas pequenas para atenderem às exigências da paróquia e, segundo o próprio vigário, estando algumas em ruínas e outras à espera de reformas Pe. Aguirre lançou-se a um audacioso projeto.

Seu objetivo consistia em demolir as igrejas menores e centralizar os esforços na construção de, apenas uma, porém, de maior porte.

Escolheu-se para a nova igreja a atual Praça São Domingos, local ocupado pela Igreja Nossa Senhora d’Abadia que deveria ser demolida. A posição seria a mesma da antiga igreja, ou seja, voltada para a avenida que estava sendo remodelada.

Sob a coordenação do Pe. Aguirre organizou-se uma comissão para dar início às obras. Faziam parte dela o vigário e outros elementos representativos da comunidade. Em cerimônia oficial em 19 de março de 1917, a bênção da primeira pedra simbolizou um momento significativo.

A administração municipal, ao implantar a tendência de “modernização” do espaço público, comum na época, via-se na pendência da desapropriação do patrimônio religioso. A necessidade de abertura de ruas e avenidas, com a criação de praças e jardins por um lado, e a construção da nova matriz por outro, equilibravam a relação de forças e definiam, lentamente, o entendimento entre as partes.

As negociações prolongaram-se até a década de 1930, quando se decidiu, após avanços e retrocessos, pela demolição da antiga matriz.

Três anos depois de iniciar a tão sonhada construção, Pe. Aguirre foi obrigado a paralisar as obras e dedicar-se à função de Provedor da Santa Casa de Araxá, cargo que exerceu até 1924.

As obras foram retomadas em 1924. Quando Pe. Aguirre deixou Araxá, a construção estava apenas iniciada.

Em 1927, passando dez anos do início da sua construção, a “Igreja de Pe. Aguirre” estava apenas coberta.

A necessidade premente de resolver a questão levou à “inauguração provisória da Matriz” ainda inacabada. O marco inaugural aconteceu no dia 27 de novembro de 1927, quando o bispo D. Lustosa e o vigário Pe. Vicente Priante rezaram, respectivamente, a primeira e a segunda missa. A primeira crisma celebrada pelo bispo, um canto das ladainhas e uma bênção do Santíssimo Sacramento, encerraram as festividades religiosas.

Desde essa data, a antiga matriz foi abandonada e seu terreno esteve disponível para a pretendida remodelação da cidade. Quando o pároco Pe. Cosci chegou para substituir Pe. Priante, em janeiro de 1928, as obras continuavam paralisadas.

Um ano depois o vigário prosseguiu a construção com recursos originados do arrendamento de dois terrenos paroquiais à Congregação Salesiana.

Em 1930, Pe. Antônio Marcigaglia foi empossado como vigário e os trabalhos da matriz continuavam com regularidade. A fase da construção gerida pelo vigário Pe. Marcigaglia estendeu-se até fevereiro de 1936 quando tomou posse o Pe. Emílio Carlos Philippini.

A retomada da obra rendeu uma série de providências como a recuperação do telhado, a execução da Capela de Nossa Senhora d’Abadia e o conserto e colocação do trono de mármore do altar-mor. Para essas realizações o vigário contou com donativos vindos da arrecadação da Festa de São José, dos cartões distribuídos em benefício da Matriz e, finalmente, da doação do casal José Adolpho de Aguiar.

A igreja sofria os efeitos da alternância de vigários e da inexistência de recursos financeiros para conclui-la. As obras só seriam impulsionadas, novamente, com o retorno do vigário Pe. Philippini, em março de 1941. O ritmo dado às obras acelerou-se com a participação da comunidade católica e com o envolvimento pessoal do vigário.

Apesar dos esforços e da cooperação da comunidade, a Matriz não foi concluída para o Natal de 1943 como se pretendia. As suas obras prosseguiram nos anos seguintes. Em julho de 1945 os trabalhos internos da Matriz foram concluídos.

O revestimento externo da igreja e outros serviços prolongaram-se por mais um ano. Em agosto de 1945 começou a decoração em pintura, da capela-mor. O trabalho foi executado por Alberto Paulovich.

Ao encerrar as suas atividades, no último dia do ano de 1946, Pe. Philippini anotou que “...a reforma e o acabamento da Matriz estão se aproximando do seu término”. A cruz da torre da Igreja foi iluminada pela primeira vez em 1947.

Em 24 de agosto de 1948, o vigário registrou nos arquivos o seguinte: “Terminam-se por completo todos os trabalhos de consolidação, revestimento interno e externo, forro e piso da Matriz, a escadaria, as dependências, a sacristia, a torre, a grade em redor da igreja, e jardim; numa palavra, está prompta, acabada a obra que me propuz a fazer. Deo gratias...”

A Igreja Matriz de São Domingos é com certeza a maior demonstração de fé da comunidade religiosa de Araxá. Seu planejamento e construção levou mais de quarenta anos e para chegar ao seu término envolveu toda a comunidade na arrecadação de recursos.

Seu estilo arquitetônico reúne características romanas com elementos góticos, belíssimas pinturas murais, vitrais e elementos decorativos que devem ser preservados, pois constitui um importante patrimônio cultural e religioso da cidade.

Em 2001, as pinturas dos altares mor, laterais e capelas foram restauradas pela empresa Oficina de Arte Aplicada (João Cristelli) através do projeto Cores da Fé, aprovado pelo MinC, via Mecenato, com a colaboração da CBMM, ARAFÉRTIL, COMIG , NITROFOSFÉRTIL e comunidade.

Em agosto de 2012, foram entregues as obras de restauração executadas nas instalações da Igreja – viabilizadas por meio da Lei Rouanet, com recursos disponibilizados pela CBMM – Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração.

 

Fonte:

Quem foi Quem. O Trem da História. Araxá, nº. 26, Maio-Set./1998, pp.3-5.

A Epopéia da Matriz. O Trem da História. Araxá, nº. 27, Out.-Dez./1998, pp.6-10.

 

Texto: Glaura Teixeira Nogueira Lima – 2001.